Autora: Kiera
Cass
Editora:
Seguinte
Páginas: 328
Famosa pela série A Seleção, Kiera Cass reescreveu
recentemente outro livro, o seu primeiro romance, A Sereia. Estava com medo de
não encontrar nesse livro as mesmas qualidades que vi na série A Seleção e
acabar me decepcionando. Para minha surpresa, não só gostei muito do livro, como
achei que, em alguns aspectos, a escrita da autora está mais consistente aqui
do que nos livros que a tornaram famosa.
A história é toda narrada sob o ponto de vista da
sereia Kahlen. Durante o naufrágio do navio em que estava com sua família, ela
foi salva pela Água, após implorar que não queria morrer. No entanto, isso
vinha com um preço: Kahlen se tornaria uma sereia e, por 100 anos, serviria à
Água atraindo pessoas para morrerem no mar. Após 80 anos, ela ainda não havia
se acostumado com sua missão, se sentindo culpada pelas mortes que causava. A
situação se torna ainda pior quando ela conhece o jovem Aklin e passa a lidar
com o conflito entre a vontade de estar com ele e o risco que isso representa
para o rapaz.
Sem dúvida, os personagens foram o ponto que mais gostei
neste livro, todos apresentam características que conquistam o leitor, além de
crescerem ao longo da trama. A protagonista Kahlen é assombrada tanto pela
culpa de não ter morrido junto com a família quanto pelas mortes que provocou
depois disso. Além disso, ela é uma personagem meiga e generosa, mas também
muito forte. Os sentimentos dela são compreensíveis, bem como o medo que ela
tem de se envolver com Aklin.
O mocinho Aklin também é muito cativante, sempre
atencioso, comunicativo e gentil. O que mais gostei na relação dele e da Kahlen
é o fato de que ele vê além da beleza hipnotizante da sereia, ele procura
realmente conhece-la, fazendo o possível para superar a mudez dela (Kahlen não
falava com ele, pois sua voz é fatal) e se comunicar com ela. Aliás, é justamente
o fato de Aklin se importar com ela e com as suas opiniões, que faz Kahlen se
apaixonar por ele.
As demais personagens também são bem construídas. As
irmãs sereias de Kahlen crescem muito ao longo da trama: Elizabeth que, a
princípio, achei fútil e egoísta, demonstra ser uma pessoa de personalidade
forte, mas amorosa e muito leal às irmãs; Miaka (minha preferida) é a mais
inteligente e talentosa, e se mostrou generosa, atenta às irmãs e muito
corajosa; Aisling e Padma aparecem menos na trama, mas ambas são personagens
fortes, que tiveram que lidar com muito sofrimento na vida.
A Água é, sem dúvida, a personagem mais ambígua. Ao
mesmo tempo que se mostra cruel por obrigar as sereias a cumprir uma missão tão
terrível por um século e impor punições severas a elas, a Água demonstra
amá-las profundamente. Além disso, ela carrega o peso da eternidade e da culpa
pela destruição que provoca. Por esse motivo, é compreensível o amor, muitas
vezes sufocante, que ela dedica às suas sereias e o medo que tem de perdê-las,
deixando o leitor dividido entre a raiva por suas ações e a pena por sua
condição.
Deste modo, A Sereia foi uma ótima surpresa.
Me envolvi com a trama e os personagens, torcendo por eles a cada página. Além
disso, Kiera Cass confirmou aqui todos os elementos positivos que eu havia percebido na
sua maneira de escrever desde A Seleção. É uma leitura simples, mas dinâmica e
cativante, que torna impossível não se encantar com a história apresentada.