Autora: Victoria Aveyard
Editora: Seguinte
Páginas: 419
Para encerrar bem o final de semana,
escolhi fazer uma resenha sobre uma leitura que concluí recentemente: A rainha
vermelha, da Victoria Aveyard. Sempre ouvi comentários bastante divergentes em
relação a esse livro; alguns, criticaram duramente as referências usadas pela
autora; outros elogiaram a trama e as suas reviravoltas. Depois de ler, tenho que
dizer que entendo ambas as visões.
O livro é uma distopia que se passa em
um país chamado Norta. Nessa sociedade, as pessoas são divididas entre
vermelhos e prateados: os vermelhos são as pessoas comuns, destinados ao
trabalho e a lutar na guerra contra os países vizinhos; já os prateados são a
elite, pessoas que vivem confortavelmente as custas dos vermelhos e que possuem
habilidades especiais que os distinguem.
“Uma
sociedade dividida pelo sangue. Um jogo definido pelo poder.”
Mare Barrow, a protagonista, é uma
vermelha. Sem trabalhar em nenhum ofício, ela rouba o que pode para ajudar seus
familiares. O seu destino seria servir no exército em poucos meses, quando
completasse dezoito anos. No entanto, sua vida começa a mudar quando ela é
convocada para trabalhar no palácio. Lá, ela descobre diante de toda a nobreza,
que, apesar de ter sangue vermelho, ela também tem poderes especiais. Esse fato
improvável precisava ser ocultado, então, o rei decide transformá-la em uma
nobre prateada de uma Casa que todos julgavam extinta.
“Sou
especial. Sou um acidente. Uma mentira. E minha vida depende simplesmente de
sustentar a ilusão”. (p. 119)
Uma das críticas feitas ao livro é que
as referências feitas a outras histórias são muito claras, o que levou muitas
pessoas a acusarem Victoria Aveyard de não ter sido muito original. De fato, fica muito claro os elementos que ela retira de livros como “Jogos
Vorazes”, “Divergente” e a “Seleção”. Confesso que, em alguns momentos me
lembrei até mesmo dos filmes da franquia X-Men. Nesse sentido, entendo as
críticas que muitos fizeram, pois isso acabou sendo um aspecto negativo. Claro
que é comum autores se inspirarem em outras séries e livros, mas Victoria faz
isso de uma maneira pouco sutil, deixando muitas vezes aquela sensação de “já
vi isso antes”.
No entanto, a história de A rainha
vermelha ainda é interessante e, por incrível que pareça, surpreendente. Os
elementos que compõem a base da trama são os mesmos de outras distopias já
citadas (governo totalitário, grupo de rebeldes, mocinha corajosa que vive
tentando proteger aqueles que ama, disputa por um príncipe, revolução, etc),
mas o modo como ela usa esses recursos no desenvolvimento da história é que
tornam o livro interessante. Mesmo com os elementos já conhecidos, é impossível
prever o rumo que a trama irá tomar e o que vai acontecer com os personagens.
A protagonista é outro acerto de
Victoria Aveyard. Logo no início do livro, o leitor conhece as fragilidades e
defeitos de Mare, fugindo do estereótipo de heroína perfeita. Ela é impulsiva,
teimosa, tem um pouco de inveja da irmã por não ter nenhuma habilidade que lhe
permitisse conseguir um emprego e escapar do exército, às vezes, é um pouco
egoísta, e, claro, vive tomando decisões erradas. Mas, apesar da raiva que
senti em alguns momentos, acabei admirando esta personagem. Ela é inteligente, dona
de uma personalidade forte, é corajosa e, principalmente, tem a nobreza de
reconhecer seus erros e se esforçar para corrigi-los.
Também gostei muito do universo
apresentado na história. Sim, eu sei que outras distopias já abordaram governos
totalitários onde a elite controla e explora o povo. No entanto, gostei muito
do fato de que a autora oferece uma visão mais completa desses dois grupos da
sociedade, que permite ao leitor perceber nuances que vão além da simples
dicotomia opressor x oprimido. Quando Mare passa a viver como uma nobre, começa
a descobrir novos aspectos sobre os prateados, o modo de vida deles, as
divisões existentes até dentro da elite e, principalmente, que nem todos eles
são iguais.
“Eu
costumava pensar que existia apenas uma divisão: prateados e vermelhos, ricos e
pobres, reis e escravos. Contudo, há muito mais entre esses dois extremos,
coisas que não entendo, e estou bem no meio delas”.
Com relação aos personagens, gostei
muito do modo como eles foram construídos. Como o livro é narrado pela
perspectiva da Mare, fica complicado para que o leitor possa conhece-los a
fundo. No entanto, isso contribuiu muito para deixar a narrativa mais
misteriosa. O leitor vai conhecendo os personagens aos poucos, junto com a
protagonista; e, assim como ela, é surpreendido em diversos momentos por eles.
“Todo
mundo pode trair todo mundo”.
Outro ponto positivo deste livro é que o
romance não ocupa o centro da história. Ao longo da trama, vemos Mare dividida
entre alguns personagens, incluindo os dois príncipes, mas isso não é uma
questão tratada com destaque. A principal preocupação da protagonista é
garantir sua sobrevivência dentro daquele mundo de intrigas e conspirações, e seus
sentimentos pelos rapazes ficam totalmente em segundo plano. O que não
significa que não haja romance; tem momentos em que acontece e o leitor tem
várias possibilidades de casais para torcer. Mas a autora soube dosar muito bem
essas partes da história, não permitindo que a trama girasse em torno do
conflito amoroso.
Destaco ainda o ritmo e o modo como a
trama foi construída, que, para mim, foi a maior virtude do livro. A partir do
momento que Mare é chamada para trabalhar no palácio, a história ganha um ritmo
intenso, que torna impossível largar o livro. As intrigas e conspirações
contribuem muito para o envolvimento com a história, pois deixam o leitor sem
saber em quem confiar e o que esperar de cada personagem, estimulando a
curiosidade. Além disso, o final conta com uma das reviravoltas mais
surpreendentes e bem construídas que já li. Me senti totalmente sem chão, quase
como se a autora estivesse me chamando de trouxa. E adorei, claro!
De modo geral, entendo quem criticou A
rainha vermelha, pois não se trata da mais original das distopias. No entanto,
essa história me ganhou pelo mundo apresentado, pelo ritmo eletrizante e pelo
carisma dos personagens. Além disso, a reviravolta impressionante e o final do
livro me conquistaram de vez. Acredito que Victoria Aveyard criou uma boa base
para ser desenvolvida nos próximos livros, e não vejo a hora de ler Espada de
Vidro para descobrir o rumo que ela escolheu para esta série.